Pensando sobre quem ou o quê escreveria na categoria Inspiração desta semana e pedindo orientação a Deus, me veio à memória a história de como uma pérola é produzida.

Não sei se você, caro leitor, sabe como isto acontece, mas eu só tomei conhecimento deste processo de formação, através de um texto do livro do Rubem Alves (um escritor, teólogo, ex-pastor presbiteriano, psicanalista e educador brasileiro, falecido em 2014), chamado “Ostra feliz não faz pérolas”, o qual adquiri em 2009.

O livro é composto por diversos textos curtos e independentes. Confesso que não concordo com muitas das coisas lá escritas, mas, a Bíblia ensina a examinarmos tudo e retermos o que for bom para nós (1 Tessalonicenses 5:21), e o texto da Ostra foi um dos que retive para mim!

Assim que tomei conhecimento do processo de formação de uma pérola (o qual é um mecanismo de defesa da ostra) fiquei encantada com o mesmo, bem como com a comparação feita pelo autor, com o sofrimento humano.

Amo pérolas, elas são delicadas, femininas, são lindas… Como pode surgir tanta beleza e preciosidade de um processo tão sofrido?

 

 

Ficou curioso, caro leitor?  Então permaneça comigo nessa leitura!
Deixarei aqui o texto de Rubem Alves (quase na íntegra) que, tenho certeza, irá inspirá-lo grandemente!

 

Ostra feliz não faz pérola
“Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que representam as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais mansos -, seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse, a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.

Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes.

 

 

Sabia-se que eram ostras felizes, porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão…”.

 

 

Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro de sua carne e doía, doía e doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas asperezas, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante, redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava.

Um dia, passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. (pág.11).
Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele a tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para sua esposa.

 

 

Isso é verdade para as ostras e para os seres humanos.
(…)
A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade (…) não produz pérola. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer.” Esses são os artistas. Beethoven – como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? (pág. 12).”

Não é realmente, encantadora, caro leitor, a forma como a pérola é formada? Claro que o processo foi descrito de forma poética.. Cientificamente, não há muita diferença, veja o trecho de um artigo extraído do site Mundo Educação: 

“A produção da pérola pela ostra nada mais é do que um mecanismo de defesa do animal, quando ocorre a penetração de corpos estranhos, como grãos de areia, parasitas, pedaços de coral ou rocha, entre a concha e o manto. Quando esse corpo estranho está no interior da ostra, o manto do animal envolve essa partícula em uma camada de células epidérmicas que produzem sobre ela várias camadas de nácar, originando a pérola. O processo de fabricação de uma pérola pela ostra demora em média 3 anos.”

Que grande aprendizado podemos ter com uma ostra…
O motivo de sua dor não foi eliminado, mas ela aprendeu a lidar com ele, extraindo beleza.. A pérola é uma ferida cicatrizada..

Esse processo adaptativo da ostra, me faz lembrar das cartas encorajadoras e cheias de fé em Cristo, escritas pelo apóstolo Paulo, quando esteve na prisão, com uma sentença de morte pairando sobre si.

Veja um trecho de Filipenses 4:11-13:
“Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância.
Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.”
Paulo extraía pérolas, que nos encantam até hoje, dos momentos mais difíceis da sua vida…

Algumas pessoas são como ostras; ao receberem um diagnóstico de uma doença ou sofrerem um processo de perda, buscam um novo sentido para suas vidas, se engajam em projetos sociais, por exemplo, passam a ajudar pessoas, tiram beleza de sua dor..

Em contrapartida, muitas pessoas que, ao serem feridas, seja com uma palavra, uma traição, uma injustiça, ao invés de escolherem seguir em frente, extraindo algum aprendizado da situação ou perdoando, ficam ressentidas e alimentam mágoas por anos seguidos ou por uma vida toda, podendo gerar uma doença física ou emocional (e não pérolas).

E você, caro leitor, como tem lidado com suas dores?

Gostaria de encorajá-lo a se inspirar com este exemplo das ostras e tentar extrair lindas pérolas de alguma situação ruim que esteja vivenciando.

Espero tê-lo ajudado em algo e aguardo pela sua próxima visita!
Deixe seus comentários e sugestões, compartilhe!!!

Deus abençoe!

 

 

 

 

 

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